Durante anos, minha busca por autoconhecimento seguiu os trilhos da psicanálise. Sessões semanais, interpretações de sonhos, lapsos de linguagem e mergulhos cuidadosos na infância. Descobri camadas, feridas e padrões com uma precisão quase cirúrgica. A psicanálise me ofereceu estrutura, lucidez e uma linguagem para aquilo que antes era apenas sensação difusa.
Mas havia algo que resistia. Um núcleo silencioso, visceral, que escapava à fala e se mantinha como uma tensão no corpo. Foi quando o Tantra entrou em cena.
Tantra, para além dos clichês ocidentais, não é apenas uma prática voltada à sexualidade. É um caminho de expansão da consciência através da presença, do corpo, da respiração. Um convite radical à inteireza. E foi exatamente isso que me faltava: a integração entre mente e corpo, palavra e sensação.
Resolvi então fazer um experimento pessoal. Mantive minhas sessões de psicanálise enquanto iniciava vivências tântricas com um terapeuta especializado. O que observei foi, no mínimo, transformador.
A Psicanálise como Mapa, o Tantra como Caminho
A psicanálise me ajudava a compreender por que eu reagia de certas formas. O Tantra me convidava a sentir essas reações no momento em que aconteciam — sem julgar, sem narrar, apenas testemunhar. Enquanto a psicanálise nomeava, o Tantra acolhia. Enquanto o consultório oferecia análise, o tapete tântrico pedia rendição.
O mais curioso é que, juntos, os dois caminhos começaram a conversar dentro de mim. O que emergia nas sessões tântricas — bloqueios energéticos, medos somáticos, zonas adormecidas de prazer e presença — se desdobrava, dias depois, no divã, com novos significados. E vice-versa.
Conflito ou Complementaridade?
Houve momentos de fricção. A mente analítica queria entender e controlar. O corpo só queria sentir. Mas percebi que essa tensão era, na verdade, um espelho da própria divisão que carrego: entre razão e instinto, palavra e silêncio.
Não se trata de escolher entre Tantra ou Psicanálise. Trata-se de reconhecer que somos complexos demais para caber em uma única abordagem. Um mapa precisa de terreno para fazer sentido. E o terreno precisa de mapa para não se perder.
Conclusão: Um Encontro de Saberes
Hoje, não separo mais as duas coisas. Levo para o corpo o que compreendo na mente. Levo para a fala o que o corpo revela em silêncio. O Tantra me ensinou a estar com o que é. A Psicanálise, a entender por que é. E juntas, essas práticas seguem me ajudando a desatar nós — uns com palavras, outros com respiração.
Talvez o verdadeiro autoconhecimento esteja mesmo nesse entrelaçamento de saberes: um case de estudo que não se fecha em conclusão, mas se abre em presença.